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O poema de Goethe e o meu banho de gingko biloba


Como bom filho de Aruanda, preparo meus banhos com ervas para atrair boas energias, e afastar os maus espíritos, entretanto, desde que cheguei do Brasil (agosto), que eu não tomava nenhum banho de astral.
Em minha religião Umbanda, a prática é comum e está relacionada aos seus fundamentos, segundo os quais, os devotos – por este rito – entram em conexão com as forças da natureza.
A sintonia entre umbandista e o seu Orixá é cotidiana e ocorre a qualquer momento, desde que nosso coração esteja aberto e a nossa mente serena, para sentir os signos pelas vias dos quais os Guias se revelam.
Por estes dias, meus Orixás tem se manifestado quando estudo e produzo arte, indicando-me percursos nas pulsões que são os meus processos criativos, portanto, não importa o lugar/espaço/território, temos de ser sinceros com nossa intuição e exercitar o que os Mestres nos pedem.
E foi nesta quarta-feira, 12 de Dezembro, logo depois que encerrou o IV FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, a caminhar pela Rua Galeria de Paris, que a minha amiga Zeza Guedes apontou as folhas de uma planta medicinal, espalhadas no chão.
Pertenciam à Pterophyllus salisburiensis, um fóssil vivo, que alimentava aos veganos dinossauros, há mais de 200 milhões de anos.
Enfeitiçado pela beleza das folhas no solo, abaixei-me, juntei algumas e decidi fazer um banho com elas, o que fiz neste domingo (16 de Dezembro).
Como o cilindro que aquece a água de casa entrou em colapso, fiz um banho frio, fechei os olhos e imaginei-me num igarapé.
Acariciei meu corpo com as folhas e emanei toda a ancestralidade que atravessa a existência desta espécie, agradecendo pela magia de nosso encontro.
Não macerei as folhas, mas deixei que secassem à temperatura ambiente.
Foi um ato simbólico, ocorrido um dia após eu ter participado de uma gira de Elegbara, numa primeira ida a uma Casa de Santo, em Portugal.
Nada é por acaso.
Àquela altura em que eu juntei do chão as folhas da ginkgo biloba, eu nem sabia que Johann Wolfgang von Goethe havia dedicado um poema para ela.
Ao escapar à radiação após o ataque à Hiroshima (Japão), esta árvore despertou interesse dos pesquisadores pós-guerra, após ser considerada extinta.
Símbolo de longevidade, a ginkgo biloba (cuja árvore atinge entre 20 e 35 metros de altura) foi descrita pela primeira vez em 1690, pelo médico alemão Engelbert Kaempfer.

Texto & Foto © Francisco Weyl

Porto, 16 de Dezembro de 2018
 

PS:
Respeito todas as religiões e todas as casas se Santo e todos os médiuns. Cada Terreiro tem seu fundamento e faz a sua gira de forma particular. Sempre tive o pé no terreiro desde menino, meu pai me levava. E fiz quase todos os sacramentos na Igreja Católica (alguns, até desfiz), e frequentei muitos terreiros em Belém do Pará. Mas foi na Casa de Mina Vodun Rainha Babasueira de Cabocla Herondina e Rosinha Malandra que eu senti meu coração pulsar e encontrei energia que contagia meu corpo e a sintonia dos astros e guias. Tenho muitos desafios e demandas, e o dos mais importantes é desenvolver meu aprendizado na Umbanda e a minha espiritualidade longe de minha casa e de meus irmãos e irmãs de Aruanda. Entretanto, onde eu estou, também está a minha Casa. Meu corpo é o cavalo de meu Orixá e o terreiro de minha própria fé. Axé !




O Poema de Goethe

Essa folha de uma árvore do Oriente
Brotou em meu jardim
Ela revela certo segredo
Que me atrai e às pessoas contemplativas

Ela representa Uma só criatura
Que a si mesmo se dividiu?
Ou são duas, que decidiram
Que Uma deveriam ser?

Para responder a essa questão,
Descobri a resposta certa:
Nota que em minhas canções e em meus versos
Sou Um e sou Dois?


Indicações
Perda de memória, isquemia cerebral ou periférica, dificuldades de concentração, ajuda a resolver casos de vertigens e a evitar AVC's.

O chá
As partes utilizadas do ginkgo biloba são as folhas.
•          Chá de ginkgo: Colocar 500 ml de água para ferver e depois adicionar 2 colheres de sobremesa de folhas. Beber 2 xícaras por dia, após as refeições.


Porto, 16 de Dezembro de 2018
Francisco Weyl
Fontes consultadas (wikipédia / saude.abril.com.br / tuasaude.com/ginkgo / http://www.sabercultural.com)

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