Um dia após
a realização da quarta edição do FICCA - Festival Internacional de Cinema do
Caeté, que este ano ocorreu em Portugal, o poeta e jornalista Francisco Weyl
faz uma análise sobre o que ele considera uma grande cena.
LUZITÂNIAS : COMO VOCÊ AVALIA O IV FICCA?
LUZITÂNIAS : COMO VOCÊ AVALIA O IV FICCA?
Apesar do
meu senso critico e autocrítico, e do quanto eu sou rigoroso e exigente comigo
mesmo, quando me coloco para realizar determinadas coisas, eu considero uma grande
vitória a realização do IV FICCA, ao qual eu atribuiria uma Nota 7 (De Zero a
Dez), considerando que seus resultados ficaram entre o razoável e o bom.
LUZITÂNIAS : O OS COLABORADORES?
Obviamente que
ninguém faz nada sozinho, nós sempre precisamos de muitas pessoas para realizar
os nossos sonhos, então, temos de ser humildes para reconhecer que os nossos
colaboradores são muito importantes para que nossas metas sejam atingidas.
LUZITÂNIAS : MAS, SOBRE O IV FICCA?
Há varias questões
que eu preciso colocar com relação ao FICCA, para eu obter uma avaliação
sincera a respeito desta grande cena artística, e política.
LUZITÂNIAS : VOCÊ SE SENTE REALIZADO?
Eu me sinto
muito feliz por este projeto chegar ao seu quinto ano de existência, apesar de
que ele não tenha sido realizado ano passado (2017), por várias questões,
pessoais, e econômicas, portanto, estou muito feliz em retomar este projeto.
Eu estou mesmo
satisfeito com realização deste festival em Portugal, que é um país onde habitei
e produzi, e tenho diversos amigos, que colaborara comigo, e que direta e indiretamente, são importantes para
a realização do FICCA.
Mas, mesmo assim,
a realização deste festival é um desafio, porque eu estou aqui desde o dia 26
de agosto de 2018, tendo, nesse período de encarar diversas tarefas de ordem
pessoal e burocrática, acadêmica e profissional, para garantir a minha
permanência e subsistência, o que não me impediu, entretanto, de me dedicar à
realização do IV FICCA.
Portanto, eu
estou muito satisfeito que o IV FICCA tenha se realizado, posso mesmo dizer que
a sua realização em si mesma é que era a sua meta primordial, então, ele
aconteceu, e sua meta foi alcançada, a despeito de eu não dispor de um sistema
de produção que á sua realização se torna necessária.
LUZITÂNIAS : COMO É FAZER ESTE FESTIVAL ?
Eu centralizo
as tarefas totais do festival, desde a elaboração de seu regimento e regulamento,
curadoria, divulgação, assessoria de comunicação, dinamização de redes sociais,
recepção de obras, escolha de jurados, definição de critérios de julgamentos, distribuição
e recolha de obras, articulação, definição, e estruturação de espaços para
projeções, etc.
Todas estas
atividades são centralizadas na minha pessoa, e isso não é nenhuma novidade, nem
nada de novo, eu já tenho experiência para fazer o trem seguir os trilhos, e
isso me permite ficar tranquilo, sem se sentir pressionado, para avançar com
estas tarefas, portanto, é lógico, que eu me sinto feliz pelo festival ter acontecido,
até porque, na verdade, eu não me dedico exclusivamente á ele, já que ministro
aulas no Insttiutto Politécnico de Bragança, em Mirandela, e tenho que (me) preparar
(para estas) aulas, além de me dedicar ás demandas de leituras e análises e
produções de textos do doutoramento que curo na Faculdade de Belas Artes da
Universidade do porto.
LUZITÂNIAS : ALÉM DE VOCÊ, QUEM MAIS FAZ O FICCA?
Então, eu me
sinto feliz que o IV FICCA tenha acontecido, dentro do que a ele planejamos,
graças a articulação de um grande parceiro que foi a Escola Superior Artística
do Porto – ESAP, que abraçou a causa e garantiu diversos uportes e estruturas
ao IV FICCA, como auditório, sala de projeção, data show, sistema de som,
pessoal técnico operacional.
Com o apoio
da coordenação pedagógica (Professora Eduarda Neves), e do Curso de Cinema (Professor
Nelson Araujo), conseguimos chegar aos estudantes dentro de um processo de pedagógico
de aprendizagem prática em que eles se tornaram assistentes de produção do
festival, experiência que se integra ao próprio espírito educativo do FICCA.
LUZITÂNIAS : E A SUA AVALIAÇÃO DO FESTIVAL?
Qualitativamente,
o festival conseguiu se apresentar à cidade do Porto e se expandir a partir de Portugal
para os demais países com os quais o FICCA mais se relaciona, como Brasil e
Cabo Verde.
Na semana que
antecedeu ao festival, cumprimos agendas locais
para divulgar o FICCA, no Gato Vadio, que é um espaço cultural –
livraria, no contra-fluxo da indústria cultural e no debate ideológico anarquista de
enfrentamento à globalização do capitalismo.
Do mesmo
modo, estivemos no 235º ShortCutz, que nos abriu uma janela para que falássemos
sobre o festival, no espaço Maus Hábitos, que é por onde circulam milhares de
pessoas por causa das diversas programações ali disponibilizadas, com variadas
linguagens artísticas, aos habitantes e visitantes da cidade do Porto.
A ocupação
desses espaços foi de extrema importância para difundir o Festival, uma oportunidade
para chegar aos corações e mentes de diversas pessoas que mesmo que não vindo a
participar do FICCA, levaram as nossas sementes dentro de si.
Lembrando
que o FICCA ocorre o ano inteiro, de forma itinerante, a partir de mostras que são
formatadas e disponibilizadas à entidades culturais, associações, escolas,
cineclubes, com os quais mantemos parcerias.
Estas
mostras são organizadas a partir dos filmes do Festival, por exemplo, este ano
de 2018, recebemos cerca de 60 filmes, dos quais 11 foram às mostras
competitivas, e 8 às não-competitivas, sendo que muitas destas obras resultam
de uma fala social de resistência, pois que são realizadas por pessoas que emprestam
o seu cinema e a sua arte para os movimentos sociais, para a questões que são
pautadas pelos movimentos de mulheres, negros, indígenas, trans, e periféricos.
LUZITÂNIAS : O QUE VOCÊ PRETENDE COM O ESTE FESTIVAL, REALMENTE?
Com a sua
prática educativa, o FICCA tem a função de difundir este espírito, estético e ético,
em que sejam valorizados estes realizadores que usam o seu cinema ao serviço da
consciência global, portanto, o FICCA fortalece os movimentos sociais, e se
realiza a partir destas mostras que se vão construindo com os filmes que
participam do festival.
Posso dizer
que, presencialmente, o FICCA teve um público que eu considero razoável, considerando
que – como de costume – não temos espaço na grande mídia (e esta á uma lacuna
que precisamos superar, alcançar tanto a grande mídia, quanto as próprias redes
sociais de agendas culturais locais), entretanto, nossas publicações – em nossas
redes próprias – alcançaram um público entre cerca de 10 mil e vinte mil
pessoas, tendo realizado um bom trabalho em nossas redes, com a divulgação de
notícias sobre nossos eventos , sobre nossos filmes (Somente a página da
Tribuna do Salgado, que é grande suporte de difusão do FICCA, alcançou cerca de
30 mil pessoas entre 15 de novembro e 12 de janeiro de 2018).
LUZITÂNIAS : E PRESENCIALMENTE?
Quantitativamente
e presencialmente na ESAP, o público médio diário foi a volta de 10 pessoas,
chegando a atingir cerca de 30 pessoas, flutuantes, mas não penso que seja um
público reduzido, considerando que o evento é “novo”, entretanto, contamos com
a presença de pessoas que qualificaram o público do festival, como jurados, realizadores
, e representantes de filmes.
No que se
refere aos MasterClasses, eles alcançaram um debate de qualidade absoluta, uma
densidade, no aprofundamento de diálogos sobre a arte naquilo que ela tem de essencial,
e de revolucionário, contra as estruturas do capitalismo, e de coletivo, com reflexões e provocações sobre
tempo e espaço nos diversos signos e linguagens artísticos.
Há que
destacar no FICCA a conferência de abertura proferida pelo realizador Sério
Fernandes, que se dedicou à falar sobre a Teoria dos Magníficos Quadros Artísticos
Cinematográficos, citando como exemplo destes, a poética e a dimensão estética
de um quadro específico que eu próprio realizei no âmbito de um filme realizado
pela Escola do Porto (Agamemnom).
Os filmes
que atravessaram o FICCA foram representatuivos de seu conceito ético e
estético, pelo que os jurados estão de parabéns, portanto, agora é pensar no
próximo festival, ampliar as redes, fortalecer as parcerias, e circular com
novas mostras, em Portugal, no Brasil, e em Cabo Verde.
(AUTOENTREVISTA)
Porto, 12 de Dezembro de 2018
Francisco Weyl, coordenador/curador
do FICCA
(Fotografia meramente ilustrativa)
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