Há
nove dias em Portugal, viajo a Lisboa, decidi (v)ir a Lisboa por diversas
razões, ver amigos, abrir fronteiras, produzir o IV FICCA, estabelecer
relações, potencializar o trabalho, fortalecer o emocional, e ampliar o
profissional.
Mas, a maioria dos meus contatos – e amigos –
estão no Porto, entretanto, não posso me limitar a nenhum lugar, ainda que eu
vá de fato estudar na Universidade do Porto, UP.
Tenho
de estar aberto.
Minha
vida mais uma vez se transforma, tal qual pássaro a migrar em seu voo
solitário, conforme lhe favoreçam as estações, sempre para mais próximo do Sol.
Eu-Sou
Luz, e tenho o Sol em meu coração.
E
os anjos me elevam neste voo.
O
Porto está diferente, mas meus amigos ainda são os mesmos.
O
Porto já nem dorme, ainda mais neste (final) de verão.
Talvez
no Outono e no Inverno as pessoas se recolham mais cedo e evitem as ruas, agora
abarrotadas de pessoas, em mangas de camisa, a maioria das quais turistas, num
ir e vir da diversidade branca e burguesa do capital.
Nos
passeios, todos expostos, apesar de que pouco a pouco o clima já comece a se
transformar.
Muitas
lojas e bares se converteram em espaços para turistas, os produtos estão mais
caros, mas esta ainda é a metrópole mais econômica da Europa.
E
a cidade mais cinematográfica do mundo.
Há
muito liberalismo econômico, e social, entidades para orientar e defender
direitos dos imigrantes.
Há
400 mil imigrantes em Portugal, 20% dos quais brasileiros, segundo o
Observatório da Imigração.
Os
Serviços de Estrangeiros e Fronteiras não suportam a demanda.
Há
ainda uma aparente calmaria em função da vigilância policial mas ninguém está
seguro.
Muita
gente na rua sem ter onde habitar e trabalhar.
E
a violência doméstica assusta.
Mas
é um espetáculo esta diversidade de quem possui dinheiro para gastar.
Não
me incomodo mas me ponho a pensar nesta gente toda a achar piada andar por aí a
olhar e fotografar prédios e monumentos.
Cada
qual com a sua própria escolha.
Esta
é a quarta vez que venho ao Porto, salvo engano, mas é como se fosse a primeira
vez.
E
mesmo que a memória me (re)conecte à sensações –quando transito por espaços por
onde já passei quando cá habitava, há sempre um sentimento diferente nos exatos
momentos em (re)visito estes lugares.
Já
não sou mais menino, mas sou capaz de me apaixonar facilmente por cada um
desses casarios seculares a conviver com a arquitetura moderna numa mistura de
aço, vidros, espelhos, e pedras.
E
andar é coisa que tenho feito sem cessar, comum prazer inigualável, e ao mesmo
tempo um esforço físico, já que transporto às costas, na mochila, os meus
pertences que são necessários e dos quais eu posso vir a precisar a qualquer
momento, para trabalhar, ou dormir.
As
aulas começam no dia de meu aniversário, 17 de setembro.
Ouso
mesmo dizer que há muito não vivia um inferno astral como este, com os astros,
e os deuses, e os orixás, a conspirar em meu favor, razão pela qual lhes sou
agradecido – e permaneço na senda, em conexão, entre corpo e mente, a alinhar
os chacras, em meio a meditações e orações diárias, pela minha vida, de meus
filhos, irmãos, familiares, amigos.
E
principalmente pelos mais necessitados e desesperados.
Já
estive na Faculdade de Belas Artes do Porto a resolver as cenas que preciso,
acionar apoios, bolsas, pesquisas, orientações, trabalho, emprego, moradia.
Não
trouxe muita grana e já cá cheguei a dever 1.350 euros, que os tenho de pagar
no primeiro semestre de 2019, e que são relativos a três das quatro parcelas da
metade da propina do primeiro ano do doutorado, em Belas Artes.
Pago
parcial e também curso parcial, ou seja, farei um ano, em dois anos.
Por
enquanto, (re)organizo a vida, habito em César, São João da Madeira, distante
cerca de trinta minutos do Porto.
Mas
o transporte é complicado, e caro.
Sobre
preços, inclusive, tenho anotado, para me habituar com os valores dos produtos.
E
procuro consumir o mínimo, do mínimo.
César
é um lugar calmo, nos montes, frio.
Ótimo
para se ficar quieto.
Mas
neste momento, preciso me movimentar.
E
a cena está todo no Porto.
Mas,
se por uma lado, não posso me dar ao luxo de ficar parado, por outro, não posso
me por a correr, porque não é assim que as cosias funcionam.
Envio
meu curriculum, recebo respostas, nisso, os portugueses são espetaculares,
obtenho sempre retornos, orientações.
E
meus amigos indicam sítios onde eu posso articular bolsas, empregos, moradias.
Estes
dias estive entre César e Porto, no Porto ocupei o Rés do Chão, que é uma
espécie de república anarquista com valores definidos entre os habitantes da
casa.
É
uma grande casa com cerca de dez quartos, cozinha, dispensa, cerca de três
salas, e três banheiros, divididos quatro pisos, com pé direito alto, e duas
escadas, um grande quintal e um pequeno depósito atrás, que foi transformado em
oficinas e salas de ensaios e de apresentações, além de horta e jardim.
A
casa é autogestionada pelos seus habitantes que se dividem nas tarefas
coletivas e organizam ações de sustentabilidade que garantem uma circulação de
dinheiro através de doações que os mantém no espaço, o qual pagam conforme os
quartos que habitam, o tempo de moradia, com o espírito horizontal e de
ocupação consciente e solidária.
Passei
cerca de uma semana em César, e me desloquei ao Porto, e viajei a Lisboa, com a
preocupação de observar atentamente aos preços e moderar –me nos meus gastos,
enquanto providencio o que tem de ser providenciado nesta fase de ambientação,
como moradias, cartões da segurança social e das finanças, etc.
Francisco
Weyl
Porto-Lisboa,
4 de Setembro de 2018, 19h
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