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Nos anos de 1970, ele morava na Avenida Dalva, e todo dia ele ia a feira da Marambaia

Olhando assim não dá nem pra imaginar, mas o zelador da União do Vegetal lá da praia de Salinas já foi um dos roqueiros mais doidos de Belém do Pará. Relembro de nós dois na Praça da República, foi pé do Teatro que ele urinou.
Naqueles anos oitenta, noventa, quando éramos todos camaradas, e comprávamos cachaça, depois de uma coleta, entre os grupos de pobres, meio punks, meios junkers.
A gente andava até as barcas atracadas no cais do Ver-o-Peso pra comprar a azulzinha que vinha lá das ilhas de Abaeté, cuja a cultura do Engenho por qualquer motivo definhou.
Buscapé vem lá da Marambaia, terra sagrada, bairro que é em si a própria resistência política e cultural dos movimentos sociais comunitários que mantém acesa a chama do Boi, do batuque, da capoeira, e da poesia.
Esse mulequinho, maluquinho cheirosinho, de escopeta na mão, não faz mal nem a um inseto, ao contrário, é um doce contador de causos que ele inventa e reinventa com um sabor de quem sabe que a vida é para se divertir.
Já fizemos muita viagem juntos, e bote viagem nisso, mas o tempo nos deixou caretas, porque nem ele nem eu mais fumamos e nem bebemos.
Buscapé parece um Peter Pan que nunca envelhece, mas nunca vi a Sininho junto com ele, entretanto, não lhe faltam Capitão Gancho para piratear as suas composições.
Autor do plágio mais descarado de todos os tempos, Buscapé Blues pegou o “Born on the Bayou”, do Creedence, e vendeu os direitos da sua popularíssima MARAMBAIA, junto com vários outros poemas e canções, para o esperto do André Cabeira.
Esta canção não pode faltar nos seus shows, nos quais reveza de músicos que compõem as suas bandas.
Recordo uma vez, em Macapá, onde ele seria acompanhado pelos The Hides, mas qualquer merda rolou, e o concerto não vingou, apesar dos ensaios com a banda, que afinal entrou para história por não ter tocado com o Buscapé, do qual aliás os meninos eram fãs.
Mesmo assim, o Buscapé recebeu o seu maior cachê de todos os tempos e até queria me dar um presente por eu ter mediado esta cena non sense.
Recusei, claro, faço tudo por ele porque o amo como amigo que é, desses que se hospedam e dormem juntos, mas não abraçados.
E agora, o Buscapé retorna à foz do Amazonas a convite do Aroldo Pedrosa para inaugurar a Calçada da Infâmia no Donna Antônia
Vai ser o lançamento da Sexta Underground, que promete um overdose de rock and roll com a presença da lenda viva papa-chibé Buscapé Blues
Além do Buscapé, outros grupos sobem ao palco, como Ozzy Rodrigues, Brenda Zenni e Dylan Rocha, naquele que será um happy hour acústico jamais visto na cidade de Macapá.
Além da sua obra original autoral sacânica, Buscapé Blues vai mandar os hits inesquecíveis de Raul Seixas, Jorge Mautner, Walter Franco, Júpiter Maçã e Ira, com a banda amapaense Tio Zé, na sua cozinha.
Como escreveu o poeta e produtor e querido amigo Aroldo Pedrosa, será uma noite de muitos decibéis que ficarão para sempre na cabeça da juventude.

SERVIÇO - Sexta Underground com Buscapé Blues - a lenda -, os meninos da Tio Zé e mais rock and roll com a trupe da pesada na Calçada da Infâmia. Mesas: R$ 80,00 / Ingressos: R$ 15,00. Reservas: (96) 98109-0563 / 99126-6869 / 99903-9994. ATRAÇÕES: Ozzy Rodrigues, Brenda Zenni e Dylan Rocha. E BUSCAPÉ BLUES / Banda TIO ZÉ.


© Carpinteiro de Poesia

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