Não
é fácil falar do Rés da Rua porque eu quero lá morar, mas também não é difícil,
embora me pareça impossível que eles me aceitem para ficar, e ainda que eu seja
uma pessoa coletiva pela própria natureza e que sabe viver em comunidade,
respeita suas regras e exerce suas atividades mediante deliberações de tarefas
comuns e responsabilidades à todos.
Em
linhas gerais é assim que eu percebo o Rés da Rua, uma espaço alternativo no cento
do porto, próximo a Praça da República, e habitado por cerca de dez pessoas, o
núcleo duro, podendo chegar até vinte pessoas, a depender dos dias e das
circunstâncias de transitoriedade dos que circulam pela casa, ali ficando por
pequena temporada.
Não
posso falar além das impressões de quem desfrutou de um rápido convívio com as
pessoas que habitam aquela casa de três pavimentos, dezenas d e quartos, várias
salas e banheiros, e um quijtal enorme, com pequenas oficinas e um mini-teatro
na parte de trás.
Soube
que o projeto existe há cerca de cinco anos sob o espírito de uma ecologia
anárquica que potencializa uma vida espirituoso e coletiva, com produção de
mudas, hortas, cerveja artesanal, entre outras coisas que as pessoas fazem e
compartilham dentro desta dimensão de uma vivência que é responsável com a
natureza de cada um e onde cada um se submete ás necessidades do grupo, sem
proselitismos.
Todos
colaboram com todos e os espaço se renova, sobrevivendo a partir de donativos
em jantares e ações organizadas a um tipo de público entre o jovem e o maduro,
composto por estudantes, artistas, e profissionais liberais, que comem, bebem e
lavam a louça, mas que também deixam uma quantia em dinheiro não especificada e
nem previamente determina – de acordo com suas posses e sua própria
consciência.
Estes
jantares são convívios entre diversas pessoas e que de certa forma asseguram a
sustentabilidade de uma casa que compra a mesma comida para todos e onde
todos tem suas obrigações para com a
casa, que é mais que uma república de natureza anárquica, mas um estilo de
vida, que afronta o senso comum de uma sociedade capitalista consumista e
individualista.
Algumas
vezes dormi no Rés da Rua sem conseguir entretanto me relacionar totalmente com
as pessoas daquele espaço, que me pareceram fechadas em si mesmas, apesar de
que soube que elas é que me tem como uma pessoa reservada que deveria mesmo
neste curto espaço me dedicar mais e convencê-los, com minhas ações, de que de
farto seria ou serei um bom irmão.
Mas
não estou para convencer ninguém, de nada, entretanto, confesso que fiquei
tímido, a espera de que, apenas depois de minha entrada, eu começasse a agir em
prol do espaço, reservando-me, necessariamente ao meu “canto”, sem querer
interferir na lógica já determinada da comunidade.
Vamos
ver no que isso vai dar porque sinceramente ainda quero morar no Rés da Rua,
onde aproveitou para fazer estas fotos, que são na verdade detalhes de seus
princípios.
Francisco
Weyl
César,
Aveiro, 27 de Setembro de 2018
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