Foi numa
estrada entre Gralheira e Soutelo que conheci Adília, ela acabara de colher
cogumelos, ofereceu-me, aceitei, seguindo-se à tarde, ensolarada, com uma
caminhada dialógica até a sua casa, onde nasceram seus doze irmãos, que já lá
não mais estão, então, ela vai adotar um pequeno cão, para lhe fazer companhia.
Oxalá, o
animal lhe dê Amor, o amor que Adília exala de seus olhos, cujo brilho nos
atravessa, e desafia a alma, a sentir, afinal de contas, que o Tempo sabe à
cogumelos que se colhem nos campos, por onde lançamos nossos olhos, enquanto
nossa mente, evapora, num sonho que contorna o Marão, e margeia ao Tâmega.
Em tempos de
cabras a saltar sobre telhados, este outonal cheiro de cães, as paisagens de
carvalhos e rios, vilarejos que serpenteiam esperanças, e guardam segredos, num
profundo silêncio, a gritar sentimentos nesta
quase-crônica sobre o Tempo que ainda é.
Tempo de
poesia, e de amizade, e de paixões, pela vida que se escapa às queimadas, e
renasce das cinzas, como uma ave mítica que só existe nas imaginações dessas
mulheres que desconhecemos, mas, que nelas nos reconhecemos, em suas jornadas
solitárias, nas quais, finalmente, elas ouvem as vozes que lhes falam de dentro
do peito, em sussurros e cantos.
Sou filho do
Tempo, e nele creio como um Deus que se move por estas montanhas, de cujas
pedras desprendem-se gentes que escutam as vozes de seus próprios corações.
O Tempo é o
repouso sagrado da memória e de tudo que existe dentro e fora da dimensão de
nossos pensamentos e da própria consciência que temos das coisas e das
experiências que passamos.
Mas o Tempo
é também o esquecimento, a libertação de respostas que surgem naturalmente sem a
necessidade de perguntas, como estas viagens nestes sábados lusitanos, em que
vamos e voltamos, mas também ficamos presos, ao momento presente, a criar
raízes no chão de Chã, onde está a “Quinta do Sol”, este lugar da Alice, com
quem passei o dia, porque, há tempo, não falávamos, de um tempo que tem de ser.
© Carpinteiro
5 de Outubro
de 2019
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