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O que eu olho e vejo, você talvez nunca verá


Eu tenho 55 anos, e ainda hoje sei que não consigo ver diversas coisas.
Apesar dos meus estudos e de meu conhecimento.
E quanto mais aprendo, mais desconheço.
O conhecimento do Universo é infinito.
E eu serei sempre pequeno diante de sua grandeza.
Tenho esta experiência de muitas vidas e existências.
Amores, desamores, trabalhos, vagabundagens, certezas e enganos.
E tudo que eu sei, eu o sei por ter sido humilde, para o saber.
Muitas de minhas certezas apenas me retiraram das verdades.
Eu estava cego de certezas.
Ainda que busque a verdade muitas vezes vi-me diante das mentiras.
Iludi-me.
Mas, tenho me dado chances e renovado esperanças de me ver a eu próprio.
E então verei o que eu preciso ver.
O que eu olho e vejo, você talvez nunca verá.
E se ver, jamais enxergará como eu.
Temos modos de ver diferentes, a partir de nossas vivências, ainda que comuns.
Você pode demorar anos para ver o que eu olho, e vejo, subitamente.
E o que você verá, o que eu jamais verei.
É um longo tempo, este de ver.
E queremos todos ver tudo que nos seja permitido  ver.
Com o tempo que as coisas têm para que sejam vistas.
Muitas vezes as olhamos, mas não as vemos.
Porque há entre elas e nós o véu da ilusão.
Já vi tantas coisas mas é como se não tivesse visto nada.
E por isso me deixo surpreender com a vida.

Francisco Weyl


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