Ele quer recuperar
o cordel em Portugal, e publicar autores amazônicos em terras lusitanas.
Foi por
causa disso que ele atravessou o atlântico, para sondar o mercado.
E, claro,
ver e saudar amigos, sentir o frio da estação, e cuidar da saúde.
Aos 56 anos,
este cardíaco, diabético, hipertenso e renal crônico, não para.
Poeta,
escritor, cordelista, e organizador dos escritores paraenses, Cláudio Cardoso é
um exemplo de ser humano sonhador.
Publicou seu
primeiro romance (“A filha do Oriente”), no ano 2000, e está a escrever seu
segundo romance, “Os 12 cavalos”.
Ele explica
que não é uma continuação, mas parte da narrativa saiu de quatro capítulos do
primeiro livre.
Cláudio tem ainda
cerca de três dezenas de cordéis editados, fora os inéditos, e mais os que
escreve, compulsivamente.
Conheceu o
cordel através de Jessier Quirino, e já decorou mais de 50 textos.
Acontece-lhe
de escrever um cordel durante a noite e de manhã já ter outro assunto para
escrever.
“Eu comparo o cordel á charge, o cordelista, como
o chargista, tem de estar atento ao imaginário popular”, esclarece.
Criador e
presidente da Academia Paraense de Literatura de Cordel, Cláudio coordena a
Banca do escritor Paraense.
Todo
domingo, religiosamente, há cinco anos, ele acorda cedo, e monta a barraca na
Praça da República.
E ali, recebe
dezenas de escritores, que trocam livros e ideias, e estruturam novas projetos.
“É o nosso posto-avançado”,
afirma.
Cerca de 40
associados participam da Academia de Cordel, que tem como Patrono, Vicente
Sales.
Cláudio
informa que foi Vicente Sales que chamou Juraci Siqueira para estimular a organização.
Eles então fizeram
o primeiro encontro, em 2012, na Feira Pan-Amazônica do Livro.
Cláudio
Cardoso é um lutador.
Faz da
poesia o próprio sentido da sua vida
Costuma dormir
por volta das oito horas da noite, e acorda de madrugada.
É seu melhor
horário para produzir, escrever, e decorar poemas, “além de ser mais fresco”,
diz.
Normalmente,
Cláudio memorizar mais poemas alheios que os seus próprios.
Paciente
renal crônico, cardíaco diabético, e
hipertenso, leva a vida em função da diálise, a qual tem de ser
submetido a cada três dias.
“Todas as
pessoas tem um rim que funciona 24 horas por dia, mas o meu funciona apenas 12
horas, por semana”, lamenta.
Mesmo assim,
esta situação lhe provoca desconforto, transtorno, angústia.
Em fila de espera
para conseguir um transplante e melhorar sua qualidade de vida, Cláudio sabe
que mesmo assim não vai conseguir se libertar dos 18 medicamentos que toma todo
santo dia.
Mas, se o rim
do poeta depende das máquinas para trabalhar, ele só precisa da sua vontade,
que é infinita.
Quando está
em crise, tem dificuldades para dormir, razão pela qual ele bem que gostaria de
se livrar desta situação.
E até
desenvolveu uma técnica para adormecer, que consiste em se imaginar numa ilha
deserta, onde tem que ser criativo para sobreviver.
E nesta sua
fantasia, ele inventa suas próprias estratégias de caça e de pesca, até que se
cansa, e descansa.
O escritor
veio ao Porto por razões de saúde, mas também por motivos profissionais.
Sua intenção
é vir habitar em Portugal e lançar obras de escritores paraenses, no mercado
lusófono.
Cláudio é
proprietário da editora Cromos há mais de 15 anos, pela via da qual edita suas
obras e de outros autores.
E a sua
Editora, ele se dedica, revezando-se nas funções de editor, diagramador,
revisor.
Encontrei-o
debaixo de chuva neste sábado (14 de Novembro) no Café Piolho.
E o deixei
na Estação de Sã Bento, de onde ele partiu para Aveiro, onde está hospedado.
Antes de
sair, presenteou-me com diversos livros de sua autoria:
A PELEJA,
com Mário Zumba, que foi feita numa noite de chuva, na internet, quando ele mandava
um estrofe, e o Mário lhe retornava com outra;
CORDEIS E
CORDELISTAS, que fez para homenagear aos cordelistas paraenses e brasileiros;
UMA ODE AO
XIRI RELAMPEANDO, que aproveitou o nome de um antigo bloco carnavalesco para
fazer um tour na historia do feminino;
RASGA MOEDA,
que fez em homenagem ao pai do Arlindo Matos, que era uma espécie de Seu Nunga,
do PARÁ;
ATÉ MORTO, cordel
para conscientização da doação de órgãos.
LEI MARIA DO
PUNHO, dedicada à Lei Maria da Penha.
A CHEGADA DE
RUFINO ALMEIDA NO CÉU,
homenagem ao
poeta paraense Rufino Almeida.
E CHICO
PEDROSA, também para homenagear ao poeta Chico Pedrosa, nordestino, dono de uma
memória incrível.
Texto ©
Francisco Weyl
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