Pular para o conteúdo principal

Saudação ao poeta português Sebastião Alba

Dinis Albano Carneiro Gonçalvez fez-se nome para homenagear à mãe, Sebastiana, e ao pai, Albano.
Aos 21 anos, sem nenhuma razão especial, começou a escrever poesias, mas não gostava de falar de literatura.
A sua obra está para além das materialidades.
Diniz não era homem feito só de barro.
Havia nele outras natureza.
E divindades.
Sebastião Alba morreu como indigente, atropelado, em 14 de Outubro de 2000, na cidade de Braga, onde nasceu, em Portugal.
Fiz-lhe, então, um filme-saudação, para o homenagear, e também a todos os poetas que matam o corpo para libertar o espírito.
A obra se chamava “Filme do Desassossego” e depois ganhou o nome de “Um poeta não se pega”, pinçado à uma das falas do próprio Alba.
Entrevistei-o em Braga, e depois de sua morte, visitei sua campa, em Torre Dona Chama.
Os encontros que mantivemos durante as rodagens do filme amadureceram um ligeira amizade.
Por estes dias de outubro, recordo com carinho aqueles momentos, majestosos.
 

© Francisco Weyl
FOTO ©  Célia Gomes




Dinis Albano Carneiro Gonçalves, cujo pseudónimo é Sebastião Alba (Braga, 11 de Março de 1940 - 14 de outubro de 2000) foi um escritor naturalizado moçambicano. Pertenceu à jovem vaga de autores moçambicanos que vingam na literatura lusófona.
Nasceu em Braga, onde viveu durante anos. Radicou-se, juntamente com a sua família, em 1950, em terras moçambicanas e só voltou a Portugal em 1984, trasladando-se novamente para a «Cidade dos Arcebispos», Braga. Mas foi em Moçambique que se formou em jornalismo, e leccionou em várias escolas, e contraiu matrimónio com uma nativa.
Publicou, em 1965, Poesias, inspirado na sua própria biografia. Um dos seus primeiros poemas foi Eu, a canção. Os seus três livros colocaram-no numa posição cimeira no ambiente cultural bracarense.
Faleceu com 60 anos, atropelado numa rodovia. Deixa um bilhete dirigido ao irmão: «Se um dia encontrarem o teu irmão Dinis, o espólio será fácil de verificar: dois sapatos, a roupa do corpo e alguns papéis que a polícia não entenderá».

Obras publicadas
    Poesias, Quelimane, Edição do Autor, 1965.
    O Ritmo do Presságio, Maputo, Livraria Académica, 1974.
    O Ritmo do Presságio, Lisboa, Edições 70, 1981.
    A Noite Dividida, Lisboa, Edições 70, 1982.
    A Noite Dividida,(O Ritmo do Presságio / A Noite Dividida / O Limite Diáfano), Lisboa, Assírio e Alvim, 1996.
    Uma Pedra Ao Lado Da Evidência, (Antologia: O Ritmo do Presságio / A Noite Dividida / O Limite Diáfano + inédito), Porto, Campo das Letras, 2000.
    Albas, Quasi Edições, 2003
 

FONTE © wikipédia


NOTA DO EDITOR:
Há cerca de 20 anos, eu o conheci e com ele desfrutei de agrados diálogos, alguns dos quais revelados em “Um poeta não se pega”, filme que pode ser visto no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=x9Hd3c-UTX4&t=472s).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nos anos de 1970, ele morava na Avenida Dalva, e todo dia ele ia a feira da Marambaia

Olhando assim não dá nem pra imaginar, mas o zelador da União do Vegetal lá da praia de Salinas já foi um dos roqueiros mais doidos de Belém do Pará. Relembro de nós dois na Praça da República, foi pé do Teatro que ele urinou. Naqueles anos oitenta, noventa, quando éramos todos camaradas, e comprávamos cachaça, depois de uma coleta, entre os grupos de pobres, meio punks, meios junkers. A gente andava até as barcas atracadas no cais do Ver-o-Peso pra comprar a azulzinha que vinha lá das ilhas de Abaeté, cuja a cultura do Engenho por qualquer motivo definhou. Buscapé vem lá da Marambaia, terra sagrada, bairro que é em si a própria resistência política e cultural dos movimentos sociais comunitários que mantém acesa a chama do Boi, do batuque, da capoeira, e da poesia. Esse mulequinho, maluquinho cheirosinho, de escopeta na mão, não faz mal nem a um inseto, ao contrário, é um doce contador de causos que ele inventa e reinventa com um sabor de quem sabe que a vida é para se divertir. J

As agulhas e linhas de minha Mãe e as contas de minhas guias

Toda vez que eu vou meter uma linha numa agulha eu me recordo de minha Mãe, Dona Josefa, e de quanto eu ficava feliz por ela me pedir que a ajudasse quando ia costurar à máquina, em cujo pedal eu também brincava, quando ela não estava a trabalhar.  Talvez seja por isso que tenho uma fixação pela expressão bíblica de que é mais fácil um camelo passar num buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.  Minha sábia Mãe era uma pessoa cuja humildade era absoluta.  Era também de uma paciência magnífica. E falava baixinho, apenas o necessário. Nestes dias, a fazer minhas guias, a passar com as linhas entre as contas, minha memória vai direto para a infância, e logo sinto a presença de mamãe, enquanto, em silêncio, medito e dialogo com ela. Recordo as roupas que fazia, algumas reaproveitava, de irmãos mais velhos, ou de amigos que faziam doações. Moça prendada do interior, tinha habilidades para trabalhos manuais e não abria mão de plantar hortaliças em pequenos espaços

#FEITIÇO (in progress): fazer-pensar magia no cinêma Amazônida

                   P ensar/fazer cinema é fazer/pensar memórias /nomadismos por entre (des )lugares , territórios /fronteiras para os quais são necessárias inúmeras viagens, cujos percursos/trajetos - para além das experiências - traduzem imagens/i-marginários, que nos impregnam e em cujas brumas desaparecemos. Pensar/fazer cinema memorial na Amazônia é, portanto, fazer/pensar cinematografias invisíveis, revisitar experiências de realizadores-ativistas e coletivos audiovisuais cujas histórias/memórias são narradas por vozes que (se) desejam falar e (se) fazer ouvir. É navegar, assim, por rios nunca navegados, até ilhas quase desaparecidas, perdidas em lembranças-pulsantes, à revelia de teorias/estratégias globais que usurpam/apagam tradições, pelo que o protagonista da História se desloca para (a partir do lado de) fora, colocar-se dentro de seu próprio lado, para se fazer comunicar, sob o seu próprio paradigma e de seus companheiros de curso.               É sobre essa experiê